Essa mensagem é para você que trabalha, para você que pensa em fazer o
Encontro esse ano, e para você que nem sequer tem interesse nenhum em
EJC, mas gosta de ler e acompanhar o que anda fazendo uma certa
juventude consciente. Prepare-se assim mesmo, porque são palavras duras.
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Observando os preparativos para o XXVI EJC de Aparecida,
me veio na mente uma palavra que é muitas vezes pronunciada, porém
totalmente banalizada. É até clichê falar disso nas motivações e durante
os três dias de EJC, porem sinto que tenho que acentuá-la agora, já que
estamos no comecinho do Encontro.
Sabe que, às vezes, me pego pensando em como Jesus pôde se entregar
na Cruz por nós. Ele, sendo Deus, sabe do que nós somos capazes. E o que
eu pensei seguia esse pensamento: nós cuspimos Nele, nós O açoitamos,
nós rimos diante Dele, nós não temos o mínimo respeito pelo que Ele
passou, pelo Sangue que Ele derramou.
Se você pensa que sua reza diária (quando lembra ou quando tem
tempo), seu terço (sonolento e repetitivo), suas idas a um grupo de
oração (só reza quando tá lá), suas Missas (vivenciadas de verdade?),
seu serviço durante um encontro de jovens (só durante 3 dias, e mais
nenhum dos 365 dias do ano)… enfim, se você pensa que o que o que você
faz “para ir para o céu” é suficiente, veja bem o que está escrito nos
parênteses e se pergunte se isso pode mesmo ser suficiente. Se isso se
compara ao AMOR que Deus tem por nós.
Daí você me interrompe, porque ouvir verdades dói, e me diz: “Mas
peraí… Não podemos comparar o que Deus faz por nós com o que fazemos
por Ele. Ele é Deus. Ele pode tudo. Somos míseros humanos falhos.”
Será mesmo? Não foi Ele mesmo quem nos ensinou a Amar como Ele amou? A
viver como Ele viveu? A ser um pouquinho só do que Ele foi quando esteve
caminhando nessa terra, tão humano como eu e você? De fato, Ele é Deus.
Mas Ele foi homem. Ele sabe o quanto é difícil.
E o outro lado desse questionamento é esse? Então o que eu faço não vale de nada? Não adianta de nada?
Adianta, sim. Se for de verdade. Se for de coração. Se for com
humildade. Se for com amor. Você tem feito isso? E agora pediria que
fizesse essa análise. De verdade.
“Hoje eu quero rasgar meu viver”. Quantas vezes você não disse isso a
Deus? E o quanto Ele te abraçou, alegre, enquanto você voltava em
pedaços e maltrapilho, e te acolheu como um Pai? Então por quanto tempo
você ficará dizendo por aí o que fez em serviço a Deus, e realmente o
fará, por Deus?
Continuem com esse pensamento, porque agora vou acordar uma realidade
que pode estar adormecida em muitos corações. Sim, eu sei que é verdade
porque conheço corações assim, inclusive o meu.
“A menor intenção de ser melhor, já é amor. (…) Se à imagem e
semelhança do Amor foste criado, então dos teus atos o mais sincero e
natural é o teu amar”. Sim, amamos naturalmente, porém amamos o que nos
convém. Amamos o que nos é mais fácil. Amamos ser servos do que achamos
mais conveniente a nós. E, com pouca humildade, achamos suficiente isso e
pronto. Sou de Deus. É mesmo? Tomemos cuidado.
Existem adorações verdadeiras, e existem adorações secas. Existem
terços firmes e orantes, e existem terços repetitivos. Existem serviços
sinceros e reais, e existem serviços hipócritas. Existem orações puras e
sinceras, e existem orações da boca pra fora. Tudo isso numa só pessoa.
O cristão vivencia essa dupla personalidade frequentemente. Cabe a nós,
dia após dia, escolher que tipo de cristão queremos ser hoje. Se
queremos ganhar, ou queremos perder a batalha para o pecado, e assim nos
afastar de Deus, que nunca se afasta de nós.
Tendo dito isso, volto a atenção aquela palavra que citei no início.
Ouvi muito isso, e vou repetir aqui: Jovem evangeliza jovem. Em qualquer
lugar. Então por que colocamos dificuldades? Por que nos impedimos de
evangelizar outros jovens? Por que, ao sermos convidados a um retiro, a
um grupo de oração, usamos qualquer desculpa para evitar nosso medo de
conhecer o Espírito Santo? Por que quando surge uma oportunidade de
fazermos um Encontro com Jesus, somos ‘superiores’ e dizemos que não
precisamos disso, como se não precisássemos de Deus? Por que nos é mais
conveniente ficarmos com nossa realidade de cristãos superficiais, e não
queremos avançar para águas mais profundas, seja em que profundidade
for? E alguns têm a cara de pau de usar o termo “carisma” como
desculpa (“meu carisma não é servir em encontros, não é rezar pelos
outros”), como se nossa missão enquanto cristãos verdadeiros não fosse a
de sermos adoradores, mas também servos; é sermos operários da messe, e
sermos intercessores da humanidade. É uma junção: FÉ + OBRAS. Preciso
repetir? Então tá: “A fé sem obras é uma fé morta” (São Tiago 2, 20).
Queridos, falarei da realidade a qual conheço muito bem. Durante três
meses, enxergo quinhentas pessoas (a quantidade não é interessante, mas
ainda assim deve ser dita) trabalhando, dedicando o seu tempo, tão
apertadinho, suas noites da semana e seus fins de semana quase que
completos, fazendo todo tipo de coisa, até mesmo coisas que, durante o
seu dia a dia, não estão acostumados a fazer, aprendendo entre si,
conhecendo outras realidades diferentes das suas, se estressando,
esperando que tudo saia conforme personificado por cada grupo, unindo
cabeças, pensamentos, ideias, coração, oração. E tudo isso para quê?
Para que duzentos jovens, de caminhada (aqueles que, dizem,
já conhecem ou já tiveram seu encontro pessoal com Cristo) ou não, mas
que se dispuseram a conhecer uma nova realidade, pessoas novas, o tal do
Jesus e qualquer que seja o motivo que o fez se inscrever.., tudo isso
para que esses jovens tenham a chance de reencontrar Aquele que nos faz
sermos melhores, nos ama por igual, nos acolhe, nos abraça, nos dá
força, e nos renova. Aquele que não nos julga, mas se compadece. Que nos
perdoa por sermos tão fracos e superficiais, e sempre nos desperta do
“sono do servo arrefecido”, ou seja, nos traz nova chama para sermos
servos melhores.
Se isso não é amar, não é evangelizar,
não conheço outro significado. Uma vez ao ano, temos a chance de sermos
modificados e não ficar mais na superficialidade. Se você é servo, lute
para que sua chama, aquela chamada Espírito Santo, se mantenha acesa
dentro de si. Saia de sua realidade, avance para águas mais profundas.
Adore, mas também sirva. Reze o terço, mas também evangelize. Fuja de
seus medos e se entregue a Deus sem barreiras. Saia da superficialidade
de ser servo apenas durante três dias, ser adorador apenas no sábado, de
ser frequentador da Missa, ser servo apenas no que te convém, e
vivencie o verdadeiro sentido de servir a Deus, de rezar com Deus.
Foi no EJC que relembrei meu encontro pessoal com Deus. Que relembrei
o que Ele passou para que eu fosse salva. Que relembrei o significado
verdadeiro de servir com um sorriso mesmo tendo sido tão difícil. Foi lá
que vi que existiam pessoas que dedicavam seu tempo corrido para que
pessoas como eu (de caminhada, mas que não tinha ideia nenhuma
do que era ver Deus em um serviço, em outra pessoa a não ser Aquele do
Sacrário) tivesse a possibilidade de avançar mais profundo, de ser
também imagem e semelhança de Jesus através do serviço.
O tema do meu encontro (2005) foi “Amar-te, e dar a vida só por ti”.
Mas desde então, eu aprendi e entendi que “Tudo Posso Naquele Que Me
Fortalece” (tema 2006), que “não me atrevo a um passo só sem teu amparo,
sem teu apoio” (música tema 2007), que “Nada Poderá Nos Afastar do Amor
de Deus” (tema 2008), que “Se Cristo Vos Libertar, Sereis
Verdadeiramente Livres” (tema 2009), que “Nada temas, pois eu te
resgato, eu te chamo pelo nome, és meu” (tema 2010) e que “Necessário
vos é nascer de novo” (tema 2011).
Fazemos tudo isso por pessoas que nem conhecemos, no sentido de que
daremos a elas a oportunidade e a possibilidade que tivemos no nosso
EJC. Muitas delas farão parte de nossa vida, e muitas delas nunca mais
voltarão a nos ver. E isso está ok. Os frutos não são para serem vistos,
mas para a glória de Deus. “Sentido na vida minha alma encontrou”. E,
dentro de cada um desses anos, conhecemos, vivemos, sentimos,
entregamos, servimos, fomos servidos, sorrimos, choramos, amamos.
Servir é amar. A palavra banalizada é amar. Porque não amamos o
difícil. Não amamos o que nos é custoso. “Aquele que não ama não conhece
a Deus, porque Deus é amor” (I São João 4,8). Servir sem rezar é o
mesmo que estar no meio do deserto sem ninguém. Adorar sem se doar ao
outro, suando, é o mesmo que está definhando no egoísmo de não querer
mostrar Deus ao outro. Amar.
Para mim, e para muitos, é isso o que significa EJC. Alguns dizem que o EJC é porta de entrada.
Porém nós que somos parte dessa família sabemos que é mais que isso.
Bem mais que isso. Não é Encontro de Jovens com Cristo somente para os
que fazem o encontro. Pelo contrário. É renovação para os que servem
também, e reavivamento (“E esse avivamento não se acabará, não se
acabará, não se acabará…”).
É onde servimos durante três meses (e não três dias), para que, junto
aos que viram o nosso amor ao fazer isso naqueles três dias (e eles
veem isso especialmente naquela parte final… olha o sigilo, Joana!),
possamos preparar uma caminhada na fé durante o resto do ano. É onde
realizamos nossas obras. Pode ser pouco para alguns, mas é de coração. E
o que vem do coração não é nada mais que amor.
Jovem! Saiamos da superficialidade e sejamos amantes. Acima de tudo, é
tudo para Deus. Sejamos firmes nas nossas orações, e sejamos fortes nas
nossas obras. Assim, de fato, podemos construir um caminho rumo ao
Senhor. E levar mais uns duzentos jovens conosco. Amém.
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